segunda-feira, 16 de novembro de 2009
e então pensei que não tenho mesmo. que deixei engavetado (mais uma vez) o projeto do livro que até ainda pouco rendia alguma distração. que sou um pouco viciada em missões impossíveis. que penso melhor quando estou no chuveiro, de preferência de cabeça baixa com a água quente queimando a nuca. que coloco o despertador pra mais cedo à toa, já que não levanto. que desperdiço tempo e pessoas por mera fixação no tempo (passado-futuro) e pessoas(outras). que estou cansada de ficar especulando, bom seria por as cartas na mesa. bom mesmo seria ter cartas na manga! que se o mundo acabar de fato em 2 anos, qual o sentido de investir em algo a longo prazo? qual o sentido de pensar nisso com seriedade? talvez pra sustentar uma conversa sem intimidade, algo como previsões do tempo... bem diferente do que ficou por dizer, bem diferente de já não dá mais pra ser assim. porque já não é assim mais. e pra provar que as coisas não vão nada bem, veio a sede e não tem água na geladeira...
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Mas champanhe tem.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Ni flores ni nada
Hundidos en ese pensamiento
Que me viene a cada rato
Como si fuera un aviso
Y por las calles me voy
Buscando algo más que yo misma
Entre llantos secos de cansancio
Y lágrimas puras de una ausencia
De la pregunta por las flores tiradas
Apenas una negativa entre dientes
Si te contara lo que me pasa estos días
Que sentirías? Desviarías tu mirada?
el desaliento…
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Acuérdate:
El día que vuelvas a querer flores
no más aquellas, otras
Vengo
Te las ofrezco.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
ela mudou-se
também mudei-me
todos nós em silêncio
novas casas
no tabuleiro da vida
segue o xadrez silêncioso das partidas
nos confortará algum dia a geografia cartesiana de nossas covas?
vamos olhar novamente pela mesma janela, em silêncio, num final de tarde, seja ela a do carro... a da Glória... a da alma?
a dúvida dos reencontros me navega,
enquanto confirmo, com um aceno de cabeça
para o novo vizinho, a efemeridade de tudo
o que nos cerca
até os passarinhos passarão
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
A soma dos dias (gracias Isabel Allende)
30 dias,
4 semanas e dois dias
um mês inteiro
não sei quantas horas
quantos minutos e segundos
quantos suspiros
quantos pensamentos
quantas saudades
quantos planos
Hoje:
mais um dia pra...
pensar no amanhã?
ler?
tentar escrever?
outra garrafa de vinho?
dobrar mais quantas esquinas?
Hoje:
Faxina
Mudei os móveis de lugar
li parte de três livros
recebi e-mails
verei um amigo tocar sax
Hoje:
depois DO ontem
antes DO amanhã
porque cada dia deveria ser precedido de artigo definido
para ganhar sua devida e nobre singularidade
Hoje:
pensava não ter feito nada
mas depois de tudo escrito
já está de bom tamanho
por hoje
Mas e o mais?
Já era...
Agora só amanhã.
Que DO amanhã será O hoje.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
- Com quantas tristezas se faz uma alegria?
E eu, egoísta que sou, só pensei nas minhas... Foi tão difícil chegar aquele ponto, eu que sempre desci ladeira abaixo estava, finalmente, a descansar sobre a grama verde. E pensei: ainda que fosse possível repartir alegria feito coisa concreta, como a metáfora do pão ou o milagre do vinho na santa ceia - eu, egoísta e agora pecadora irrecuperável, eu não quero ter que dividí-la. Me custou tanto! Foram tantas as lágrimas que me arderam os olhos que já estou cega pra todas as outras tristezas... Ou finjo que estou, simplesmente.
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E toda noite me deito na cama aos prantos, vigilante da travessa de pão e vinho a repousar sobre a cabeceira.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Distribuição de segredos
- Tenho muita vontade de ficar sozinha
- Houve um incêndio numa casa da minha rua, mas eu só espiei do balcão e não quis descer pra ver de perto
- Há mais ou menos umas vinte pessoas que esbocei uma caricatura literária a seu respeito, mas elas nem se dão conta
- Sou bastante discrente dos eloquentes teóricos
- Pago para fazer um mestrado
- Quero um compromisso
- Às vezes me passam pra trás
- Ando quilômetros por dia pra conhecer um território novo
- Choro quando tenho raiva
- Não tenho tendências violentas quando acordo
- Anteontem me senti um cocô
- Tento ser simpática, ainda que me custe
- A mulher da quitanda brigou comigo porque apertei o pêssego pra saber se tava maduro. Respondi a ela com a minha melhor educação, percebi que tava duro e por isso também não comprei.
- Entrei no chinês para adquirir um adaptador. Me atendeu um que não falava espanhol. Me empurrou em mandarim um mega super por 7,70 e eu acabei levando um de 0.75
- Ri baixinho das senhoras que entraram encharcadas no ônibus por causa da chuva
- Suei bicas carregando minhas malas para um novo apartamento
- Comprei coisas saudáveis para o café da manhã
- Penso em estrear meu tênis novo de esporte
- Chorei quase as dez horas que distanciam o Rio de Lisboa
- Sinto saudades
- Amo várias pessoas ao mesmo tempo
- Brinco de me reinventar cada dia
- Etc
- Etc
- Etc
Amanhã certamente serei outra porque passarão outras coisas. Outras coisas que passam todos os dias e que eu assimilo e incluo ou não dou bola e jogo fora. Isso que me faz sentir viva e gostar dessa sensação.
Tento escutar mais essa voz que ecoa desde dentro, que pulsa e grita. Aquela que me alça a descobrir novos mundos.
Quantos mundos cabem dentro do meu mundo?
Quantos segredos ainda faltam por distribuir?
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Um lar para chamar de seu
domingo, 13 de setembro de 2009
Mudança
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
inédito
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Date: 2009/7/22 13:05
Subject: ninguém vai morrer por causa disso, né?
é claro que eu me apaixonei por você, perdidamente.
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Received:
Date: 2009/7/22 14:16
Subject: Re: ninguém vai morrer por causa disso, né?
desculpe se alimentei algo...não foi minha intenção em nenhum momento...
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(draft)
Date: 2009/7/22 16:55
DESCULPA É O CARALHO. FODA-SE!!!
sexta-feira, 31 de julho de 2009
deve ser amor que estou sentindo...
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
bolo de aniversário: fecho os olhos e faço um pedido eu quero
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Estou tão descaradamente feliz que eu poderia tomar o mundo inteiro de uma só golada!
porque tem sido um ano bom
segunda-feira, 20 de julho de 2009
para uma outra vida
quarta-feira, 15 de julho de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
mi casa, tu casa
quarta-feira, 8 de julho de 2009
It's been a hard day's night, and I've been working like a dog...
F-A-L-C-A-T-R-U-A.
Era uma indignação desmedida, ainda maior diante do discurso retórico e ofendido da parte desmascarada. Mas estava segura: não há castigo para a honestidade. Pior seria a comiseração íntima de se calar, simplesmente. Então disse. Não a palavra 'falcatura' como gostaria, mas disse levemente: negligência. disse: benefício a terceiros em detrimento do interesse público. disse: justifique a opção pela operação desvantajosa. Disse... Disse com palavras de veia alta, pulsante. Disse firme e sem delongas, mas com toda a polidez possível. Toda a polidez plausível quando se aponta o dedo na cara de Deus e fala pra ele: eu vi.
Mas Deus é Deus.
E sentiu a vista queimar e entendeu que lágrima é mesmo brasa, só que ninguém sabe.
domingo, 5 de julho de 2009
ça va bien
Tão segura no que era futuro
E tão forte no que era fim
E tão firme no que era palavra
E tão convincente no que era voz
E tão imponente no que era postura
E tão horizonte no que era olhar
E tão independente no que era amor
O Tempo está
des
bo
tan
do
As minhas cores favoritas.
O que era um plano... É fato
O que era uma expectativa... É data
O que era distante... É agora
O que era vizinhança... É hemisfério norte.
Tic-tac-tic-tac-tic…
Era um mágico, bruxo ou inventor? Não lembro...
Acordei e estava escrito no meu pensamento: “Outro alguém se chegará... E dará corda na vida da gente. Brutalmente”.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
domingo, 28 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
num piscar de olhos
talvez no fim de semana aquele filme que disseram que é bom não melhor ficar em casa descansando tem também a conta do telefone o cartão de crédito o apartamento a roupa nova o tenis de palhaço lindo lindo lindo e cancelar a academia e procurar uma outra outra aula qualquer pra começar e terminar assim-assim e a transferência pra fazer da compra no bazar e o livro que está pela metade e nada de novo por lá no espaço que não é meu nem nunca foi nem foto nem texto nem recado que possa ver e acalmar um pouco esta curiosidade ou saudade eu já nem sei que nome tem e se eu tivesse morando ainda na Europa as coisas seriam melhores - será que sim? - não sei nunca se sabe vou deixar um recadinho pros amigos de longe e saber se eles lembram de mim porque se não lembram vão lembrar agora e sempre terei uma casa pras férias e um olá vindo de longe que ainda me deixa saudosa e alegre daquela alegriazinha triste de quem partiu e nossa! a amiga argentina que nunca mais me escreveu e o namoradinho catalão que era ótimo mas eu não estava pronta estou agora mas é tarde passou acabou eu acabei e fui atropelando tudo destruindo tudo que era bom e eu era má nas coisas boas e tem ainda o Canadá e tem ainda Barcelona e tem ainda Santa Teresa que parece outro país de tão distante cada dia mais e eu aqui me esquecendo de que forma tem as coisas e o som e a gravidade de certos olhares que eu vi primeiro e por último e não fez a menor diferença no final sem final feito filme francês que a gente não entende mas gosta sem saber porque exatamente gostou ou como foi a historia e não explica e não lembra só sente eu só sinto e sinto muito ainda por tudo mas deixa um dia passa e acho que vou fazer o concurso e comprar uma casa e aprender a dirigir mas se eu tiver uma casa um carro um trabalho que me pague bem não poderei mais pegar um avião e descobrir o que tem do lado de lá então que dúvida absurda de fazer agora e não ter depois e não fazer agora e não ter depois e fazer e ter é só coragem então e...
quarta-feira, 13:14:18
terça-feira, 23 de junho de 2009
Desalinho
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Café da manhã
O dia da despedida passou como se não fosse, como se houvesse um seguinte e os seguintes. Houve, mas muito tempo depois. E nesses dias, a pergunta de sempre era: - “O que faço contigo?”. E a sempre pergunta-resposta: - “O que fazemos de nós?”. Nunca se sabe ao certo o que fazer com alguém e quando é que essa decisão tem de ser a dois, mais que um, um em dois, dois pra um. A reticência de assumir: - "Sim, quero!" O medo de recusar: - "Não, não quero..." A sempre constância da espera, mais adiante tratamos disso, o medo do precipício, a incerteza da dúvida.
O fato é que ainda não sabemos. E se não tentarmos jamais nos responderemos.
- "Sim, tentemos!" Uma vez mais, aceito teu convite.
Aceita o meu?!
Te espero, cedinho, para o café da manhã. Para você, reservo as melhores frutas da estação, o pão bem quentinho com a manteiga derretendo, a xícara de café, os sucos da minha Terra. A geléia como sempre fica por tua conta. Se quiser, te preparo um chá, puro ou com mel.
Tudo bem doce, bem bom, da maneira como já foi e como deverá ser se....
Respondo: - "Sim, quero!"
E seja o que Deus quiser.
Estou aqui. Vem?!
quarta-feira, 17 de junho de 2009
sexta-feira, 12 de junho de 2009
beijaria de novo e de novo
até não poder dizer mais
onde eu começo, onde você termina
eu só sei dizer que te amo
e esse caminho que traçamos juntos
já foi muito
já foi muito pra quem não esperava nada
nada disso que hoje eu tenho
esse Sol, esse sorriso lindo, lindo, lindo
Se eu pudesse beijar você agora
beijaria de novo e de novo
até não poder mais ir
aonde eu começo, aonde você termina
eu só sei dizer que te amo
e esse caminho que traçamos quase juntos
já foi muito, já foi
já foi muito pra quem não esperava nada
esse Sol, esse sorriso lindo, esse jeito
de ir e me deixar quase louco
quase louco, quase louco
por que você não me procurou?
por que você não veio?
por que você não quis?
o que será da gente
da gente que se quer tão bem,
que se quer tão bem
que se quer também?
quinta-feira, 11 de junho de 2009
muito e muito tempo depois...
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Javier estaba jugando con los niños en el jardín, cuando se aproximó de ellos un joven de ojos tremendamente azules como océano, diciéndoles:
- Perdóname señor, buenos días. Vive en esta casa la Srta. Carmen Bizet?
Pues si, ella es mi mujer. De que se trata? - Dice Javier al muchacho.
Un poco sorpreso y ya no tan valiente, el chaval sacó de su bolsa de cuero una pequeña cantidad de sobres ya amarillentos de tan viejos y se lo puso en la manos de Javi:
- De eso se trata. Por favor, entregarla. Llevo tanto tiempo buscandole que solo ahora veo lo cuanto estoy retrasado...
Javier examinó los sobres. Le pareció todo un poco raro; Ellos no llevaban nombres y tampoco reconoció las estampillas. Entonces dice al joven que ya se distanciaba:
- Oye. Espera un minuto, por favor... Hoy es festivo en la ciudad, los del correo no trabajan. Quién es usted y como llegaste a nuestra casa?
El joven dice: Vengo de lejos… Y quién soy ya no importa más.
Javi recogió a los niños y entró en casa, yendo directo a la habitación a donde su mujer se preocupaba en elegir un vestido adecuado para el estreno de aquella noche.
- Carmen, ha pasado algo muy raro. Un joven de acento que no conozco me preguntó si esta era la casa de la Sta. Carmen Bizet y me entregó esto, dice que era todo tuyo y que te estaba buscando hace mucho.
Carmen cogió los sobres y dice inmediatamente:
- No tengo ni idea de lo que es…
- Seguro? Y la estampilla esta – Mar do Su(…) Su-l, creo que así se dice. Donde es eso?
- Mar de donde? Yo no sé, Javi. (…) Y por que me estás mirando así, cariño? Y este hombre que le entregó estes sobres, quien es? A donde está?
- Yo que te pregunto quién es este chaval! Un amante? A parte, es mucho más joven que tu, no me imaginaba que pondrías tener amigos jovencillos en otra parte del mundo!
- Pero, Javier, lo que me estás diciendo es una gran tontería… Yo no me voy a molestar con esta historia que no entendí nada y de nada sé a respecto. Y se te vas a quedar enojado, pues tienes dos trabajos: enojarte y desenojarte solo porque yo no tengo nada que ver con eso…
Y Carmen salió enfurecida, tirando los sobres en la cama. Javier se sentó y cogió uno de ellos y rompiendo el cierre, empezó a leer. Le bastaron dos o tres líneas para percibir que se trataba de un idioma parecido al suyo, pero no se podía entender mucha cosa. La lengua era latina, de esto estaba cierto ya que era estudioso de Filología, pero… De donde?
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Con la carta en manos y ya mucho más tranquilo, se aproximó de su mujer que estaba bañándose. Ella había llorado, estaba con los ojos un poco rojos y por eso no quiso mirarle mientras él le hablaba.
- Mira, cariño, perdón si fui un gran imbécil… Me puse celoso, yo sé. Es que fue todo tan rápido y una gran sorpresa. Yo estaba allí, con los niños y me surgió este tío así de pronto ni sé de donde, preguntándome por ti y con estas cartas! Parecía que vosotros se conocían toda la vida…
Un corto silencio se pasó y Javi empezó otra vez… No podemos olvidarlo todo? Su abuela ya debe estar llegando para la ceremonia con los otros de la familia, a mi no me gustaría que estuviéramos así… Venga, por favor, Carmen…
Entonces Carmen le interrumpió y dice:
- Javi, un minuto… Cuál es sitio de las estampillas? Mar do Sul?
- Si, es este…
- Por díos! Mi abuela no es de aqui; Ella se vino de una tierra lejana que está abajo del Ecuador… Nos cuenteaba muchas historias de un amigo Farolero que tenia pero que nunca se encontraron porque él estaba cerrado en el Farol y ella tenía mucho miedo del mar porque una vez casi se ahogó… Hasta que un día, en una gran tempestad de 11 de junio, el mar incontenible rompió con las paredes del puerto que mantenía la ciudad segura y inundó todo, destruyendo los edificios, plazas, casas. Todo que estaba en tierra se hizo mar, así me dice mi abuela. Las familias tuvieron que salir con urgencia de sus casas y se abrigaron en los barcos... Como Mar do Sul era una isla, casi todos tenían embarcaciones, pero algunos no tuvieron tiempo para huir y… Lo imaginas la tragedia, no?
- Claro! Está explicado… Además, tu nombre es una homenaje a la señora Bizet… Carmen Bizet. Mira, cariño, la carta esta, está firmada por “Bailarina” y fue escrita para el Farolero, seguro la misma persona de las historias que escuchaste. Y que loco, el 11 de junio es tu cumple!
- Venga, Javi, que fuerte, que fuerte! Pero… No es raro que un muchacho le estregaste esto? Si es la misma persona, deberías ser mayor, no lo crees?
- Si, a lo mejor tu abuela nos podrá explicar todo.
- No sé si a mi me gusta esta idea… Ella está muy viejacita, y si le viene emociones que ya no puedes contener y...
- No, Carmen, déjate de esto. Es algo importante, tienes que entregarla, no se puede esconder algo así.
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Escrevo para informar que o antigo empregado do farol mudou-se sem deixar novo endereço. Sou o encarregado de cuidar da desativação do farol, há muito prevista, já que todos as embarcações têm hoje modernos equipamentos que dispensam o uso de tecnologias à lenha. Encontrei sua correspondência ao chegar e devolvo-a no estado (lacrada). Sem mais, atenciosamente,
Sr. Lúcio
PS: Curiosamente, corre entre os pescadores o mito de que o antigo faroleiro seria um mago, pois alguns deles o teriam visto atirar-se da torre e, transformando-se em gaivota, sumir no horizonte. Como são criativos estes nativos.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Como se não bastasse a falta de uma narrativa interessante, agora dei para inventar metáforas para além do desprezível... Note: para te fazer queixa do meu desconsolo, ia começar esta carta com a frase:
- "Ando tão medíocre que sou capaz de tropeçar numa formiga e cair".
(...) Pelo menos me sobra um pouco de auto-crítica e, pensando bem, até que é divertido escrever estes pequenos absurdos... Se eu me esforçar um pouquinho, digo coisas ainda piores numa tentativa de parecer eloquente e passional:
2. "Porque estava tudo ali e as coisas eram desde sempre até: um porta era uma porta avião mosca escada rolante montanha-russa eu você... Não é possível acabar assim. Estava ali, eu vi. E nós éramos desde sempre qualquer coisa assim junto assim quente assim certo assim pra nunca mais ser coisa alguma."
Um pouco melhor, que tal?
É tudo invenção, meu caro. Tudo invenção.
Esta carta, este quarto vazio, esta queixa de um amor que não houve, nem ouve: é surdo, cego e mudo... Ah, agora sim: um bom clichê.
É tudo invenção, porra! É tudo palavrão.
É feio. Agora pouco ouvi dizer: ela não liga pra você.
trimmmmm trimmmmmmm trimmmmmm: o te-le-fo-ne, tocou novamente. Fui atender e...
AlôAmigosDaRedezrfrzfrsFoiDadaALargadarzsgszsAntenaUmLightrzsgszsGoodTimesNoventazrshrsz ...
bzzzzzzzzzzzz...
É tudo invenção e eu não tenho que te falar assim... Perdoe, é só cansaço.
um beijo estrelado.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Entre um café e outro
- Hã?
- Uma folha em branco... é um convite e tanto, não acha?
Ela consentiu com um gesto e sem nenhum entusiasmo, mal suspeitando que tratava-se dela.
Ele apertou entre os dedos a folha de papel e impregnou de sua lisura os sentidos. Virando-a delicadamente, como se não soubesse o que encontraria no verso daquela página, ousou surpreender-se com o mesmo vazio, a mesma brancura, quando ela pousou os grandes olhos marrons delicadamente sobre os dele. Olhava de um olhar lento, demorado, como se pudesse compreender mais pelo tanto que lhe chegava aos olhos do que aos ouvidos.
Enquanto ela recolhia lentamente os olhos em direção às ordinárias tarefas do dia, um grito de pássaro ecoou dentro dele e, lançando à mão a caneta, pôs-se a escrever um poema antigo. A tinta vermelha ofereceu-lhe o acaso, pois tentou duas ou três canetas azuis e pretas que vieram a falhar. Quando terminou de escrever quis julgar se eram verdadeiros os versos, mas percebeu que, de revéz, o poema o houvera escolhido. Então seu coração aquietou-se por um segundo. Mas entregou-se novamente aos versos vermelhos e verdadeiros, agora escravos do papel, e num impulso de libertá-los, fez da folha um barquinho, atirando-o ao mar branco que se abria vasto a sua frente.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
entre umas e outras: pausa pro café?
(...)
Ando ausente, eu sei. talvez esteja apenas cumprindo o meu destino de ser só - E não por amor de menos...! Não por nada; esta queixa da vida é quase um vício. vou parar aqui... eu deveria era te dedicar uma canção alegre, fazê-la rir como naquele carnaval que tivemos ou ao menos ter a decência de retribuir o convite pro café. Isto sim, está feito: quer?
domingo, 31 de maio de 2009
adeus, adeus meu rouxinol
O teu adeus era tão certo que quando bateu em minha porta o relato do teu último ato... Eu já sabia o que era. Não precisaria de mensagem alguma, bastava vê-la para saber que as malas sempre estiveram prontas - apenas o destino era dúvida. Quantos mares foi preciso desbravar para saber o porto de sua morada? Taí coisa que ninguém poderá medir, porque esta aventura da descoberta de si mesma é íntima a ponto de não ter nome. Alice, há algo que sempre quis saber a seu respeito e me dediquei a observá-la mais de perto na tentativa de desvendá-la... O teu segredo ainda não sei, mas sinto. E senti-la tem sido de alguma gravidade e convicção inquestionável: o momento singular entre o rufar dos tambores e o salto triplo mortal do acrobata. Maestro: dê-me a canção derradeira que hoje a noite é de gala... e Despedida.
Um abraço de desenho animado com braços elásticos do tamanho do mundo.
tumtum-tumtum-tumtum-tumtum!!!
Tudo que posso dizer cabe nisto: quando pousar os seus olhos sobre as montanhas do outro lado do atlântico, quando puser na boca o sabor distante de outra terra, quando brincar as canções de muito longe e abrigar-se no abraço do seu homem, quando pousar os pés no chão de sua nova casa, algo seu vai estar aqui, sorrindo em mim, apesar da torre, dos trilhos ou da paisagem.
Vai brilhar, Alice!
sábado, 30 de maio de 2009
quase-resposta
Já há muito que eu mesma não sei de mim; me arrisquei numa aventura de palavras encantadas que prometiam incendiar minha vida morna... Mas há coisas que precisam mesmo ser ditas, não basta estarem cuidadosamente desenhadas nas entrelinhas. Eu, quando tive a chance, calei. E o que levei pra casa foi a lembrança de pequenas faíscas entre um olhar e outro, o lamento pela estranheza do abraço último – a prova inconteste de que entre aqueles dois corpos a se despedir na esquina não haveria entrega senão a minha. Pois temo nada ter a lhe oferecer agora... O amor veio e devorou tudo; inundou tudo; quebrou tudo. Nestes tempos de silêncio e noites frias, eu apenas poderia lhe narrar o que não houve e, ainda assim, duvido que minhas verdades inventadas lhe distrairiam a ponto de parar o tempo. Aliás, pare o tempo agora e talvez sobre algum fiapo de delicadeza da Bailarina que um dia eu fui.
É inverno aqui.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Daqui, minha torre,
cumpro meu destino de mirar.
O horizonte oferece-se lânguido e fácil
mesmo quando é tarde ou chove muito.
Trabalho, há pouco. Apenas o de alimentar o fogo do farol, cuidar que jamais se apague
e pouco olhar para ele, pois hipnotiza
facilmente os mais desejosos de mais.
Então, fatalmente, resta-me o horizonte, além das cartas. Algumas vezes há gaivotas e fico a examiná-las por tanto tempo que é possível mergulhar a alma nelas e voar. Outras vezes, o movimento dos cardumes me põe a sorrir, porque resumem o mover de tudo e neles soa a orquestra silênciosa do devir. O trabalho é pouco mas grave. Pus-me aqui por escolha, não se trata de queixa. Apenas constato aquilo que foi e é o meu caminho desde a última curva. A solidão é algo com o que se acostuma, como uma dor que jamais cessa e nos ensina a sorrir apesar dela. Mas não é de gaivotas, cardumes ou trabalho. É das cartas que quero falar. Sinto tanta saudade de recebê-las que não é possível explicar. Lembro de uma que li de manhã bem cedo... a neblina ainda baixa esperava os primeiros raios de sol para desvanecer-se; o frio nas lâminas de vento a aparar-me os ossos... e de repente sua voz soprava em emus ouvidos e podia ver seus lábios se movendo, olhos aparafusados nos meus. Tudo cessava enquanto lia. O mundo punha-se a esperar por mim, solenemente, enquanto meu coração ragalava-se de alegrias em saber, ainda que você nunca tenha escrito, que, numa manhã ensolarada de sábado, você comprou sapatilhas novas e tomou chá no centro da cidade. Uma outra releio sempre... também fala em gaivotas. Mas voce tem o seu destino, o seu caminho, o seu passo. E, talvez, nele não caibam mais cartas... por enquanto.
Um beijo, saudades,
Faroleiro.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Despedida prévia
As discussões de hoje transitaram por temas como dignidade, fuga, humor, literatura, desapego, amor, busca, encontros... Aproveito o espaço, o convite e a chance para escrever, receber e endereçar-lhes cartas. Cartas de novidades, de satisfação, de saudades, de queixa, de compartilhamento, de amor, de frustração. Cartas de amizade, de cobrança, de resgate e de despedidas. Cartas de despedidas. Estou sempre de saída e de chegada, com as portas dos fundos e da frente sempre abertas. Se isso é fuga ou decisão previamente tomada, agendada, com firma reconhecida e legalizada, é uma questão de referencial. Não tomo minhas despedidas como fuga. As interpreto como um momento dado a determinadas circunstâncias. Tolero bem as distâncias, mas não aprecio o momento da aproximação de uma despedida.
Quantas cartas minhas encontram-se perdidas em gavetas e armários pelo mundo? Quantas foram rasgadas ou queimadas? Quantas estão perdidas em páginas de livros lidos, semilidos ou esquecidos? Quantas viraram rascunho, marcador de texto, papel higiênico, verso de receita de bolo ou de páginas de recados? Quantas ainda são mantidas em segredo? Quantas ainda encontram-se lacradas? Quantas foram extraviadas e não chegaram ao seu destino? Quantas foram roubadas?
Só sei que escrevo cartas. Essa é minha única certeza. Escrevo cartas para desabafar, desatar nós, mostrar que lembrei ou avisar que pretendo esquecer. Escrevo cartas para treinar a caligrafia, para testar canetas, para fugir do vício do computador. Escrevo cartas mais para que me amem ou me odeiem e menos para que me esqueçam. Escrevo cartas com a esperança de ser protagonista de um grande achado daqui a meio século. Escrevo cartas para amansar o pensamento e desafogar o coração.
Por vezes, escrevo cartas para não enviá-las, apenas para me conformar por tê-las escrito. Escrevo cartas para descobrir até quanto eu gosto ou desgosto das coisas, até onde posso, até onde gozo ou sofro. Escrevo cartas para liberar minhas limitações, para conhecer e descobrir as pessoas e o mundo, para contar segredo e pedir sigilo.
Escrevo cartas para perdê-las.
E perdendo-as, esqueço que ao tê-las escrito posso ter chorado, posso ter sofrido, posso ter me entregado em demasia.
E encontrando-as, me lembro de passados, de histórias, de cenas inesquecíveis e de outras que, por precaução, evito rememorar.
Cartas, benditas ou malditas, polidas ou escrachadas, formais ou escatológicas, em papel de carta ou papel de pão, curtas ou longas, de declaração de amor ou de ódio, de descaso ou desespero... sempre são endereçadas a alguém. Esta é para vocês e isso já me basta.
Me despeço de vocês e desta carta com a pena de quem se despede de alguém querido, sabendo que com ele dividiu partes de sua vida e que, independente das cartas que deixaram de trocar no decorrer de suas vidas, entendem que o laço que os une é invisível, porém concreto.
Até breve.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Sombras
Estou cansado de tanta regra e rigor e preconceito e repressão, de tanta discussão inútil, de toda essa retórica infindável que não leva a nada além de uma falsa idéia de justiça e igualdade. Todas as respostas não passam de contradições Abstrações, o nada, palpites, o páreo na raia, sempre seguido de um coro de ignorância que diz amém. Falo de pessoas, de todas, sem esquecer que também estou subjugado a essa condição. Incondicionalmente humano me sinto frustrado. Nos usamos como baús onde depositamos nossos fracassos e esterilidade. Baús sem rótulo que, algumas vezes, numa mistura de desespero e esperança, acabamos abrindo para, no fim ou no fundo, nos decepcionarmos um pouco mais. Falo de pessoas cheias de perfeição, todas covardes na verdade, escondendo umas das outras seu lado mundano e censurável, tentando convencer a todos e a si mesmas de que são especiais, até imprescindíveis. Todas hipócritas. Não vou ser uma delas. Quero que o mundo mem veja como me sinto, um homem que não entende nada, que acorda todos os dias porque não há mais nada a fazer.
Vejo todos desesperados, correndo atrás de suas indulgências, preenchendo-se com o que não vem de sua essência. Essência que à primeira vista pode não parecer mas que acaba sugerindo diferenças. Não vou ser mais um deles, não quero o modelo pronto. Ainda não tenho minhas respostas mas as dos outros não me servem.
Ando cansado porque a vida me tirou do rosto o sorriso, me empurrou lágrimas olhos afora, me cortou de rugas a tez. E não sou velho, não, não sou mas me sinto morto. Apesar de tudo tenho esperanças porque me lembro que não fui sempre sombras. Me lembro de um tempo em que eu tinha as respostas.
Rio, 1992.
como um cão a lamber sujeiras
dos sapatos alheios
cada um tem nos pés
a sujeira que deseja
chega de andar às voltas
sem dizer o que impera
em mim quando enfio o dedo
na boca da moça feia
ela quer seu próprio dedo
chega de querer que sejamos
o que sonhamos
sonhar é afastar-se dos planos
somos o que somos: desenganos
Perdidos na selva de pedra
Era uma vez uma menina. Não. Há muito não era mais uma menina. Ainda que não sentisse dessa forma, já era uma mulher. E era daquelas fortes em corpo frágil, daquelas determinadas, cheia de vida, de planos e de ilusões. Era uma menina mulher, como tantas outras meninas mulheres, ou só meninas ou só mulheres que, por uma tolice ou desengano, perdeu a confiança em um dos pilares de sua vida. Ela acreditava que sua estrutura havia sido construída sobre bases sólidas de família, sociedade e indivíduo. E assim sentia com tanta firmeza que seguia, mesmo que passasse por intempéries, caminhos tortuosos ou abalos.
Talvez por excesso de romantismo, sofreu um choque de realidade, essa despida e cruel, a sorrir de escárnio para ela. Esse choque tinha um nome e uma forma grotesca. Tinha um tom de voz grave, até grosseiro. Tinha forma de gente, mas de gente má, com pernas, braços, olhos, boca e ouvidos maus. Acredita-se até que um dia tenha tido um bom coração. Um coração que agora bate num compasso ruim. É inacreditável que essa figura, como tantas outras figuras com formas semelhantes que perambulam por aí, pertença ao nosso mundo, ao mundo da menina mulher, ao meu mundo. Como essa mulher que em um dia específico chorou como uma criança, eu menina, hoje, também choro, ainda que mais contida e conformada.
Retomando o romantismo, esse que nos dias de hoje anda deveras esquecido. Talvez nas linhas de um livro antigo empoeirado ou nos corações ingênuos de jovens apaixonados. Decerto na memória de anciãos enternecidos e sem amargura ou na expectativa das mães de primeira viagem. Nem sei. O que sei é que andamos embrutecidos. E essa brutalidade advém de muitas fontes. Do excesso de trabalho, da falta de cordialidade e de delicadeza, da violência urbana, da inoperância, do desassossego, do desconforto, da intolerância, da intransigência, da aspereza das línguas, dos desafetos, de toda uma gama de situações que nos humilha diariamente.
Estamos fartos. E mesmo fartos, não encontramos forças para erguer os olhos e a cabeça. O que a figura grotesca quis e ainda quer é que andemos em fila, cabisbaixos, infelizes, sem ideais e posturas definidas. O que a figura grotesca quer é te coagir, é fazer você se retratar por ser mais capaz, mais inteligente e mais humano. Ele quer te maltratar e fazer você pedir desculpas pelo desacato. Ele quer mandar absurdos e fazer você obedecer. Ele não quer diálogo, não quer te proteger, não quer saber quem você é, não quer te ajudar. Ele quer submissão, identificação e retratação. Ele quer te autuar, ele quer te prender, ele quer te ver pelas costas. Tudo isso porque você pensou um dia que quando precisasse ele estaria a postos para te auxiliar, cumprindo o que manda a sua função. Mas não nos enganemos. A função dele nunca foi essa. Há muitos anos o mundo está pelo avesso e pelo avesso estamos nós, mocinho virando bandido, bandido virando herói.
Mais uma vez penso na menina mulher chorando. Quais são seus sonhos? A que ela aspira? A que se dedica? Será que depois do choque ainda deseja, ainda sorri?
Não quero pensar em dar o troco, em pagar na mesma moeda. Isso eu deixo aos imundos, que com as mãos sujas, empesteiam a alma e as ruas por onde passam. Se tenho que pagar, o farei com hombridade, pois apesar do pilar da sociedade ter falhado comigo, eu ainda acredito no indivíduo e na família.
Mesmo manca, sobreviverei.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Eu sei, eu sei...
Para Alice e Bailarina,
Escrevi este poema faz muito tempo... e ele já era para vocês...
Eu não estive aí naquela vez
Você também não veio quando quis
A gente sabe que não é por mal
Viver é cada dia mais veloz
Há muito já não ouço a sua voz
Que deve ter mudado, eu já nem sei
Se a cor do seu cabelo agora tem
Mais grave ainda ou o mesmo velho tom
Talvez eu reconheça pelo olhar
Se a gente se encontrar e sem querer
Trocar umas palavras na estação
De uma linha futura do metrô
Com nossos netos pegos pelas mãos
Vou esquecer e você vai lembrar
Daquele ano em que, no reveillon
Nos encontramos lá na beira-mar
E eu vou falar daquele carnaval
Que na verdade ainda não passou
E vamos rir de novo pra valer
A gente, que se via todo dia
E ria junto até sem ter razão
Vai seguir, cada um pro seu lugar
Pela calçada larga, quase hostil
Numa quinta qualquer do mês de abril
Se o nunca mais não nos interromper
E mesmo se a gente não se abraçar
Que intimidade é coisa que se esvai
Com o tempo, este tremor que tudo rui
Um gesto vai fazer você saber:
Você andou comigo aonde eu fui.
Um beijo duplicado.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Querência
A minha urgência é tão grande que ao escrever chego a comer sílabas.
Tenho pressa.
Salto páginas.
Atendo mil telefonemas.
Respondo em monossílabos.
Respiro fundo. Profundo.
Suspiro.
Aspiro.
Raciocino, mas não penso.
Observo o mundo. Escuto histórias. Acho graça de tudo o que é sem graça.
Tudo isso porque ando em busca do descompromisso. Do ponto entre o vivenciar sem a entrega, sem um termo de responsabilidade. Não quero o laço envolvente que me enforca, que me prende. Não quero perguntas nem reclamações. Quero apenas ficar aqui, comigo, mesmo que o aqui não seja aqui, de fato. Quero entender meus pensamentos, avaliar minhas intenções, rever meus valores... sem interferências próximas alheias. Quero impor-me desafios para ultrapassá-los. Quero vingar-me da angústia com as minhas conquistas. Estou farta das manchetes, dos horários, da internet, da TV, do lixo nas mentes e nos estômagos, das crateras nas ruas e nos corações.
Todas as manhãs caminho alguns minutos bem devagar, contando os passos, divagando sobre essas e outras questões. Apesar da urgência que me maltrata quase que o tempo todo, sei que ainda tenho tempo suficiente para refazer esses trajetos.
Até quando? Não sei e, por hora, acho isso bom. Vejo com simpatia o caminhar sem a preocupação do precavido, sem a desconfiança do porvir, sem o medo da queda ou do fracasso. Com ou sem pedras, viver nunca foi fácil. Por isso não almejo a felicidade plena, posto que bem dito “a felicidade nunca é grandiosa”. Simplesmente prezo pela satisfação completa dos meus desejos, mesmo os mais inconstantes, os mais duvidosos, os mais sórdidos e/ou sagrados. Almejo somente por um sentimento de alcance, de capacidade, de honestidade comigo mesma, carregando a certeza de que, indiferente a todos os contratempos, eu tentei ser íntegra com quem eu me importo e, de uma certa maneira, com quem se importa comigo.
Um beijo.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Como uma cascata de fogos que revela um dia dentro da noite todas as perguntas que perseguira olharam-me sorrateiras e brilhantes: luz! e soube que jamais seriam respondidas. "Pois que a felicidade, então, não é apenas uma pausa?" Tentei continuar a ouvi-las mas era tarde "O intervalo entre uma refeição e outra? Comer: rasgar, cortar...", foram ficando cada vez mais distantes suas vozes "triturar, deglutir... aguarde outra fome, Ela virá..." Desandei a monologar em silêncio, esquizofrênico, arremessado a um tempo indistinto mas no espaço profundo onde existia sem que nenhum par de olhos jamais houvesse pousado sobre mim.
Ave dor! Adie-se toda autopiedade! Cancelem todas as indulgências! Eu quero o sortilégio dos pecados, o fogo das profundezas já arde em mim, não há nada a temer! Deixo as máscaras para os anjos (e outros seres do céu) e tomo nas mãos a espada! Dela viverei e, sim, por ela morrerei, tantas mortes quanto forem necessárias para que a Terra esqueça meu sobrenome e engula para sempre os meus gens. Quero mentiras e culpas três vezes ao dia, os fins à frente de tudo. Sob o comando do ego, este pirata, avante! Mandem-me os caçadores, devolverei suas peles. Mandem-me doutores, devolverei-os moribundos. Mandem-me papas, pastores, devolverei-os demônios. Mandem-me menininhas puras, devolverei-as putas. E felizes. Putas felizes e saudáveis... e rosadas e vivas, como flores nas manhãs febris de um janeiro esquecido. Que o mundo despeje à minha porta provisões sem fim de tempestades, tormentas, a presença sombria de temores inúmeráveis, o sentimento implacável de transitoriedade, prescindibilidade, insegurança, dúvidas e interrogações de fogo. Medo, medo, medo... e prazer, todos os desejos satisfeitos... enfim a felicidade...
e então...
"me passa a farinha, por favor"
... o monólogo cessou.
terça-feira, 12 de maio de 2009
ouço com os olhos, falo co'os dedos
mas como houvesse mais do que segredos
a segredar, invento outro salto
não é bastante a letra sobre o prato
pousado à mesa raso, frio e branco
palavra negra feita escrava, presa
à folha de papel, pergunta quando
deseja sequestrar a boca, a voz
montar como um vaqueiro e em seu cruzado
rasgar páginas feitas de caatinga
e declamar espinhos libertados
mas onde ando as ruas são de asfalto
cavalos hoje são feitos de aço
disparam todos, por demais velozes
e eu cavalgo, eu troto, lento e lasso
desejo andar às voltas de mim mesmo
e mergulhar nas águas de outros rios
o meu relógio é este aqui de dentro
abrigo de segundos infinitos
partido tantas vezes e batendo
ainda o Sim, encosta no meu peito,
e escuta: Sim. Sim. Sim...
o mais é nada
outra vez
Foi como quem atravessou um longo túnel que recebi tua mensagem; tanta luz que a claridade incomodou os olhos, mas depois foi festa. Festa de lua cheia com fogueira, cantoria e noite quente... Se tivesse um rio perto, destes de águas calmas, juro que mergulhava. Porque o mar, Alice, o mar é traiçoeiro. Ao mar entreguei meu coração, encantada com o vai-e-vém da maré, quando tudo era só brincadeira de molhar a pontinha dos dedos n'água fria e correr da onda grande. Devo mesmo ter me distraído; só sei que meu coração está alagado. Mas não quero contagiá-la, prefiro ter meu dia aquecido pelas tuas palavras. É bom caminhar outra vez pela praia e respirar ar puro. É bom olhar o horizonte e sentir que a brisa fresca do oceano ainda me causa arrepio. Não sei como viver uma vida morna e, não importa a gravidade dos ferimentos, serei sempre aquela a mergulhar em sonho e ternura.
Me escreva mais.
Escreva mais.
Preciso um pouco da sua força até poder caminhar sozinha outra vez.
um beijo das estrelas.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Lua cheia
- Ei?! Eu ainda existo. Não me desmereça!
E foi subindo aquela ladeira (como fiz muitas outras vezes) que me coloquei fora de tudo aquilo que me atordoava e consegui visualizar o propósito mais distante, porém mais grandioso. O de ser única em meio ao meio homogêneo que vive nas linhas que me margeiam. Logo deixarás de ser cheia e te tornarás minguante e nova. Pode ser que me encontre novamente na mesma rua com a mesma descrença, o mesmo corpo cansado, um pouco curvado pelo peso do mundo, o andar lento quase arrastado... Te peço que, mesmo assim, não canse de me mostrar que ainda existe, que voltou a estar plena e cheia de luz, me ajudando a iluminar além dos pensamentos, a famosa ladeira dos pés calçados cansados.
terça-feira, 5 de maio de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
ma petite parisienne
quinta-feira, 23 de abril de 2009
feitas de mim
sobre os ossos seu peso
e nos pés seus estragos
produtos do que fui
são o que sou
e sua carga
em meu sem jeito de carregá-las
ao sopé da montanha
parece mais grave
parece-me a hora de alimentá-las
preparo o alimento
reparto
separo a parte mais nobre
sirvo a todas
esfria meu prato
e a fome disfarço
sorvendo momentos
há medo
e muito as protejo de tê-los
bastam a mim
eu os trato
a elas reservo o leito
dos rios, calores da tarde
o toque da relva
visões de um vale
ensolarado
planejo
a verde humidade
brotar
há medo
calculo nossa escalada
passo a passo preciso
o ritmo de cada passada
em vão, matemática
é nada
trago os ombros já esfolados
as pernas lerdam cansadas
e há ainda o que não se pode
controlar: tormentas
animais vorazes
avalanhces
tempestades
a velocidade do mundo
ao mundo cabe
determiná-la
sou apenas pedra e
minhas pedras a carregar
sigo
subo
rumo ao cume
piso em falso
perpasso
o peso é demais
resvalo
no limo de outra pedra
e caio
e minhas pedras
tão bem cuidadas
à custa de dores
escaras e noites
em claro
caem
sem que eu possa
ampará-las
depois do susto
nada (dizem)
só uma lasca
e uma mágoa
sexta-feira, 10 de abril de 2009
sob o céu de vidro
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se escrevo pequeno, é só para caber.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Passos
sexta-feira, 3 de abril de 2009
oração da bailarina
Santinha, quando eu morrer eu quero ir pro céu, porque o inferno é quente e faz de mim alguém que peca sem nem saber... É intuitivo - o corpo vai, simplesmente, e não há castigo para a fatalidade.
Lhe suplico que venha me buscar com a ternura e a leveza de sempre, mas aviso dos perigos da empreitada pois haverá, estou certa, outros à minhas espera não tão bem intencionados quanto você. Sim, sim - reconheço que infringi certas regrinhas mas, infringindo-as, fiz alguém feliz e isto conta, não é? Deveria...
Santinha, não estou sendo intrometida nos assuntos Dele, mas já que amei e fui traída, e traí outros que me amaram, e toquei - ora com maldade, ora com devoção - e fui tocada por mãos menos puras e ainda mais desmerecidas, então está tudo matematicamente compensado. Foi assim que aprendi e o que vale, na hora H ou no dia D, é o que se sabe no ato.
Quero ir pro céu, quero muito e prometo me comportar. Juro de pés juntos e mãos para frente: este o único modo que conheço pra não roubar na promessa. Eu posso fazer graça pra outros santos e ficamos todos rindo distraídos na eternidade. Que tal? Posso também falar alguns versinhos que sei de cor e ensaiar com você passos novos pro Ballet das Nuvens... (aquele espetáculo que inventei nos meus sonhos, com orquestra de anjos e platéia de crianças sorridentes).
Tudo que sei é que eu sou boa! Sou mesmo, avalie: Eu cozinho pros amigos, compro pão pros meninos desabrigados da Glória, presto muita atenção na fala do outro, telefono antes para avisar da visita, telefono para desmarcar a visita, parto quando indesejada e fico quando querida, sou generosa e escrevo poesia e - principalmente, eu rio...
Eu rio o tempo todo enquanto choro em segredo. E se posso um gran-pliè de vez em quando é porque você me escuta e vela meu sono de bailarina namorada da tristeza...
Santinha, não esqueça, quando eu morrer eu quero ir pro céu.
clichê
Para toda pedra, poeta
Para todo beijo, afeto
Para todo céu, estrela
Para toda água,sede
Para todo atraso, espera
Para toda carta, resposta.
Para tu(o)do SER, (um) outro.
segunda-feira, 30 de março de 2009
Qualquer coisa
Lembrei de um poemeto de um autor sem vergonha que eu sei de cor.
"Um é aquilo feito de dois
quando não há depois"
De cor,
?
Os nomes de Alice
uma só vez, nem de vez.
Restam sempre muitas vidas
para serem consumidas
na razão dos desencontros
de nosso sangue nos corpos
por onde vai dividido.
Ficam sempre muitas mortes
para serem longamente
reencarnadas noutro morto.
Mas estamos todos vivos.
E mais que vivos, alegres..."
Sou feito de outros sangues,
reunidos em meu corpo e meu sangue, dividido em outros corpos,
misturado a outros sangues,
segue noutros, ainda mais distantes.
O nome que tenho deram-me. O dos meus, escolhi, tentando dar a eles outro destino. Afastei-os o mais que pude de mim mesmo, como se não fossem eu, também, a correr pelos gramados, a fazer estas perguntas, a temer e duvidar... Abençoada e Coragem.
Olha. Sou aquele menino pulando no gramado... e a menina que me interroga. Quando repondo não é para ela... é para mim que respondo, e em nome de todos que vieram antes, ainda que briguemos, ainda que neguemos o nosso próprio cheiro naquele velho de antes, ainda que as rodas, os risos, as mãos entrelaçadas já não se toquem mais.
Esta palidez, repetida em cada rosto, esta distância, devida, ainda que pareça injusta, é a força que nos põe adiante; é já a resposta que bradamos, a solução e a garantia de que eles também seguirão, quando as crianças voltarem a correr em volta de uma nova mesa. Então todo o riso será recobrado, a ciranda será recobrada, a alegria virá, renovada. E nossos braços, fortes, afeitos à luta, serão postos à prova. E esses mesmos braços, doces, feitos para o abraço, voltarão a abraçar.
* "Teu olho cansado,
mas afeito a ler no campo
uma lonjura de léguas,
e na lonjura uma rês
perdida no azul azul,
entrava-nos alma adentro
e via essa lama podre
e com pesar nos fitava
e com ira amaldiçoava
e com doçura perdoava
(perdoar é rito de pais
quando não seja de amantes).
E, pois, todo nos perdoando,
por dentro te regalavas
de ter filhos assim..."
* Carlos Drummond de Andrade em "A mesa".
domingo, 29 de março de 2009
para os dois
Mulher bonita diz. (Simples assim)
Vocês , por favor, sintam a paisagem como um lugar de beleza e verdade. E música - a que toca agora é assim: "Acabou chorare, ficou tudo lindo de manhã cedinho. Tudo cá, cá, cá, na fé, fé, fé. No bu bu li li, no bu bu lilindo, no bu bu bulindo..."
E acabou mesmo. Estou bem - para além das definições.
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
E depois de tudo, o desafeto
A história da sopa de rosas vermelhas, de vez em quando, aparece para mim. Como também a do cabo do pente queimado e a da sigla do PDT escrita a lápis atrás do armário. Lembro-me bem da casinha de madeira pendurada na parede da casa de minha avó e de que, brincando de pique esconde com duas das minhas, ganhei uma cicatriz no lábio. São inúmeras as recordações. Mensagens de um passado que ficou guardado em uma caixa no fundo do armário, de um tempo empoeirado que parou.
Hoje, após a comemoração dos muitos anos cumpridos da matriarca da família, sinto que empalidecemos. Nunca estamos juntos. E quando estamos, nos noto distantes. Almas perdidas dentro de seus próprios limites e manias. Já não nos dizemos muita coisa e se dizemos é sempre da boca para fora. Nos suportamos e isso nos basta. Ainda que não devesse.
Hoje não há mais daquelas rosas. Tampouco os pequenos em volta da mesa. E nem aquela alegria. E menos ainda a ingenuidade. Não sei em que momento essa relação foi sendo enfraquecida, recortada, desmantelada, sufocada. O engraçado é que não sinto saudades. Ás vezes só um pouco de vergonha. Vergonha por participar desse circo de simulações e não reagir. Vergonha de não tentar responder à altura aos que estão perdendo o respeito aos laços e a memória.
E por um momento falávamos de uma solução, de um resgate.
A conclusão é a do conformismo com o não.
Não criemos falsas esperanças. Não há solução.
segunda-feira, 23 de março de 2009
É tempo de calar...Dizendo.
Futuro
que você me revelou noutra carta. Enquanto
Ele
não chega, dedico-me à uma nova aprendizagem: Faxina. Mas de verdade - não destas em que se pega tudo que não nos vale mais, se guarda numa caixa e, por preguiça ou apego, se encontra um canto para esquecê-la, como se esquecendo-a, ela não mais existisse. Porque troquei as coisas todas de lugar, a casa está às avessas e já não encontro nada facilmente. Imagina, então, o que acontece quando me chega algo urgente...
S-u-s-p-i-r-o: é difícil RESOL(VER) quando não se sabe ONDE a resposta está.
Pois inventei duas passagens secretas para estes casos:
ou dou outros sentidos para os nomes que sei,
.
.
.
ou esqueço o que sei dos nomes e fico apenas com os sentidos.
Me explico: Se estou com sede, ponho-me a procurar do que beber mas como baguncei tudo, não sei mais do lugar dos copos, das garrafas, das torneiras... Mas ainda sei o que é sede. E sinto. É nesta hora que vem a invenção: quando eu falo a palavra sede, o novo sentido que chega é o do desejo de dormir e então eu me deito (não importa se há cama) e a vontade passa. Às vezes isso não funciona e tenho que usar doutro artifício: apenas sinto o que é sede e esqueço o que é copo, o que é garrafa, o que é torneira, e, como não sei mas de nome nenhum, qualquer coisa que provo eu sinto que é água e a vontade passa também.
Veja que fato curioso: no mesmo dia em que o médico me disse que eu tenho uma cicatriz dentro do olho esquerdo, um moço que costumo ler escreveu que ultimamente tem passado muitos anos; Taí mais uma coisa para eu RESOL(VER).
Vou colocar no envelope um abraço pra você, Faroleiro. Ihhhhhh... Quando fui pegar o abraço já não estava ONDE e por não ter inventado nada para o tempo, ainda sei e sinto o que é pressa... Portanto, deixe-me ver o que tenho aqui por perto para lhe dar. Pronto: giz-de-cera....
Um giz-de-cera com afeto pra você,
Menina
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*Mesmo mudando as coisas de lugar, da caixa dos afetos eu sempre saberei: Está dentro. Infelizmente.
Reinvenção
A única certeza que tenho agora é a da fluidez. A certeza de um mundo concreto com bases fluidas. Situações passageiras, quereres pueris. Está certo, somos volúveis. Você e eu. Eu e eles. Ele e elas. TODOS, instáveis, girando e misturados. Histórias entrelaçadas, como as línguas, como braços e pernas. Minha cabeça anda torta. Noites mal dormidas, ecos de risos e vozes, sensações induzidas, olhares de grandes olhos. Também tenho coisas para te dizer. Mas todas também sem forma e sem nome. Assim nos entendemos, menina. Assim nos entendemos. O que tenho para te dizer cai no âmbito do senso comum, da rotina ordinária. Mas são sensações só minhas que quero compartilhar contigo. Ainda assim elas não têm nome nem apelido. Não provêm nem dão frutos, posto que são temporais. Amanhã vem outros e depois outras e outros. Ontem sim, hoje não. Amanhã... fluido. Acho que estou confusa. Me reinventa mais uma vez, menina! Me relativiza?! Me batiza de novo?
Esses dias alguém ouviu meu coração bater. Impressionado, me perguntou:
- É sempre assim?
Não respondi.
A pergunta que eu me fiz e que ainda ecoa é:
- Será este também passageiro?
tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum...
domingo, 22 de março de 2009
sussurro: no silêncio se pode ouvir o coração bater! Cada batida é uma frase secreta que só o do outro entende. Parece que tem mensagem pra você...
tum-tum,tum-tum,tum-tum, tum-tum...
quinta-feira, 19 de março de 2009
Ballet Oracular
Uma mentira que não cabe em esferas e movimentos elípticos, revelada no desejo imóvel de girar... uma mentira imaculada pela fome de esperar: Futuro, vinde! Eis a única mágica que se pode inventar, ainda que nenhum poder faça-se provável... nenhum querer necessário, nenhum contato enigma. Oráculos são para os que respeitam as placas, para os que param à porta em busca de respostas (perdoe-me a amolação dos mistérios), mas uma porta o que é senão um convite, ainda que esteja trancada? "Trouxeste a chave?", menina? É sempre um contvite. Quando a música parar, mágica: Futuro (é com F maiúsculo mesmo), vinde! ...e outro alguém se chegará... e dará corda na vida da gente.
Brutalmente.
PS: É dentro para onde correm.
segunda-feira, 16 de março de 2009
entre o filó e a sapatilha
domingo, 15 de março de 2009
deles
(6 minutos)
Ela: é o tempo de um mergulho, ora.
(...)
sábado, 14 de março de 2009
da série 'lo que aprendí con las mariposas':
te dei essa língua
de sentir amargos
e a pele fluida
de arrepios-apelos
arei horizontes
de perder passados
replantei afagos
de enfiar os dedos
garota, teu cheiro
meu caso
na boca da tarde
segredos
ensaios de medos
alheios
ficou tudo nosso meio
nada feito
feito nada fosse mesmo
nosso enredo
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2007
da série 'lo que aprendí con las mariposas':
um casal
a não ser pelo fato de
não sermos
sob as lentes
do arnette falso, meu disfarce
algo verdadeiro sente
falta
de ouvir seu sim
com mais frequência
ganhar um olhar
quando se afasta
mas você
tem suas lentes
caras
o Sol poente confere
ao reflexo
ares de tela
a cidade passa veloz
por nós
emoldurada na janela
no vidro vejo uma cena
parece um casal de cinema
você bela
sonha uma conversa
pro dia seguinte
seguir
eu já não valho a pena
sinto coisas de cão
impulsos de perseguir
domar, mordê-la
covarde
o amor é essa coisa
pequena
a falta que a gente sente
de um papo de fim de tarde
a música que se reparte
enquanto não chega
a hora
de descer
Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2007
da série 'lo que aprendí con las mariposas':
Não ser digno de nenhum amor,
meu projeto
A quem puder dar, tomar,
em grandes goles de estio,
o que houver de mais quente
E no poente da tarde, ou da vida,
partilhar sempre a mais fria
i n d i f e r e n ç a
Desse vazio, minha entrega
sem esboço de mínimo gesto
ou vestígio de qualquer som...
dessa ausência, que é minha
melhor oferta,
colher a noção exata do Não,
isso sim, de todas as coisas,
a coisa mais certa
Para ser, fielmente
(os olhares se perdem quando os olhos apontam na mesma direção),
à margem do que não é dito,
o oposto do que persigo inerte
Até não ficar
nada de bom
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2007
da série 'lo que aprendí con las mariposas':
é estar
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........................................................................vivo
Rio de Janeiro, 19 de abril de 2007
Se Ana(lia) não quiser ir eu vou só...
Mar à dentro: eu digo (só) - só porque eu sei.
Mas hoje não estou para a poesia... A gota do mar é só a gota do mar; nem por isso fico triste. Por sabê-la assim, faço dela o que eu quiser. Aliás, eu tenho um barco à vela e lá fora parece que faz sol: lux sub illa umbra! shhhhh...
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PS: "...Eu vou só. Eu vou só sem Analia mas eu vou. "
lux sub illa umbra
sexta-feira, 13 de março de 2009
mensagem escrita na penumbra para que não seja descoberta antes de chegar ao seu destino
quinta-feira, 12 de março de 2009
faz um chá pra gente, Alice?
Passado o passado, te digo: faz?
Um beijo.
havia uma flor no meio do caminho
Mas já te digo, Faroleiro, que estou recuperada da minha frágil vaidade; Voltei para casa em tempo de te receber e me aprontar pra festa de nós dois – você, gelo-correnteza, eu, vento-oceano. E quando eu ficar cansada de tanta alegria e cor, só saberei de dormir tranqüila ouvindo o dedilhar do seu violão mudo.
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Ah! Havia uma flor no meio do caminho, mas eu nem sei mais como ela chama.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Poema para que não cesse
a pedra não importa
ainda que cesse
discorde
pedras não interrompem
o caminho
o poema existe e atesta
'Tinha uma pedra...'
o verbo concorda
'... tinha uma pedra'
ainda que cesse
discorde:
depois do 'se', o 'senão'
Desabafo
Desculpe-me pela ausência de notícias. É que passei por dias um pouco atribulados. Como sempre é bom receber notícias suas. Mesmo que elas sejam em forma de um breve bilhete com uma leve chamada de atenção pela minha ausência injustificada. Estou tão inquieta esses dias... às vezes me vem um desânimo sem fim, uma vontade profunda de dormir e deixar o sonho me levar para um lugar mais calmo. Outras vezes, tenho rompantes de ansiedade e faço muitas coisas ao mesmo tempo. Corro mais do que devia, penso, ajo, corro, paro. E outra vez corro mais do que devia, penso, ajo, corro, paro. Até desanimar novamente. Oscilo entre essas sensações e vou levando a vida. Lembrei dos tempos de Andaluzia, da vida branda e lenta. Do andar de bicicleta na chuva, deixando empapar as roupas e de ir batendo os dentes de frio até chegar em casa. Apesar de tudo, livre. Lembrei também das tardes pós-colégio, quando adolescente, em que saía às pressas da escola para encontrar um amor primaveril. A deliciosa sensação da descoberta e do proibido. Quem poderia saber? As festas de minha cidade com os antigos amigos, com os quais hoje tenho pouca ou nenhuma identificação. A subida em uma montanha cheia de neve. A falta de ar. O cansaço. E lá no alto encontrar os braços do companheiro-namorado, que te guia com carinho, graça e devoção. Perder-se por ruas desconhecidas. Achar-se nos símbolos e nas lembranças do que já se encontrava dentro, mas faltava ser tocado. O prazer do retorno. De abraçar alguém querido. De chorar de rir. De encontrar um olhar te olhando. São memórias de um passado saudoso e ainda próximo, mesmo sabendo que já me aproximo dos 30 anos. Calma, ainda há tempo. Apesar da saudade, estou bem. Bem de verdade. É certo que ainda há muito o que melhorar, mas não me queixo. Como a maturidade, a plenitude chega devagarinho. E devagarinho divagamos nós sobre sentimentos, sensações, experiências, lembranças... Até onde a memória alcança, até onde o coração aperta e o corpo suporta. Até onde a pena alcança, até onde o calo aperta e a vida suporta.
Perto demais.
Um beijo.