quarta-feira, 31 de março de 2010

De repente, tudo que era já não sou mais. E posso voltar a ser o que queria antes desta história começar... Outra chance, outro jeito, outras coisas.
Inventar outro sonho, experimentar outro caminho, falar outro idioma, dançar outra música, dormir noutra cama, conhecer outras pessoas.
De repente, posso acordar mais tarde, pegar outro ônibus, outro avião, outra cidade, outro futuro.E outras cores, outros gostos, outra estação -céus! Eu posso ter dois verões num único ano. E duas primaveras, Ah! A Primavera...

E outros cinemas,
outros bares,
outros restaurantes,
outras cervejas!

(!!!)

Pode ser da vida acostumar, mas de repente... Outra vida; É pegar ou largar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Fragmento

Fostes
E há muito na direção
De tua imagem é que avanço
E a ela peço que vá
E a ela mesma digo que fique
Numa profusão, confusão, confissão acelerada e tardia
Revisito um teu sorrir, colhem-me os dias
Recobro vagamente uma coragem longínqua...
Onde andarão?

Cuida
Não te preocupes
É demais verdade, há o frio
E flores logo mais
E logo outros amores
Novos ais, viva!
Não te preocupes
Ficaram as tuas mãos de passarinha
A curiosidade, a espera
Noite aberta brilha ainda tua voz acesa

Ficou o teu perfume pelas praças
E um frutinho da palmeira sobre a mesa

segunda-feira, 15 de março de 2010

esperando abril chegar

escrevi pra Ju, falei com a Ju, ouvi a Ju sorrindo... Não, não ouvi, só imaginei e foi tão bom... Gargalhei no quarto sozinha e na confusão do riso com computador-imaginação-e-Ju eu derrubei o controle remoto, levantei distraída pra pegar água e tropecei na bandeja e dei três passos pra frente muito rápido e joguei o corpo pra trás mais rápido ainda pra equilibrar de novo e puft! Aiai-uiui com o braço na fechadura da porta, e eu ainda rindo do sorriso que escutei, lembrei, que troquei só escrevendo. A Ju me disse que está atarefada. Escreveu assim óh: BSB-RJ-SP-BSB. Eu logo entendi, mas ela tinha que ter colocado asism óh: BSB-GAL(ou SDU)-GRU(ou CGH)-BSB - linguagem de aeromoça, de aeroplanoespacial-especial. Assim que a vida der um tempo ela disse que aparece pra um chopp...

STOP!


quarta-feira, 10 de março de 2010

A espera da época das flores

A inesperada neve anunciada trouxe um sentimento frio. Solidão sem dor. Motor que apenas ronca. Vida que segue seu rumo sem comando. Estímulos, deixados atrás. Como um gozo antigo que perdeu o gosto. Como o besta costume à euforia e ao novo que envelhecem amarelados, sem mais.

C-o-n-s-t-a-t-o: Envelhecer

R-e-m-o-r-d-o-me: o desperdício do ontem

I-g-n-o-r-o: a ausência de planos para o amanhã

Urge a chegada da época das flores! Renovação das belezas e dos prazeres, a encher outra vez a vida de dias claros e cores cálidas.

Saudades finas das flores amarelas que não chegaram a brotar. Delicadas tulipas em semente, presente de um pseudo-amor passado. Desaparecido subjetivamente e sobrevivente apenas em escassas linhas de poemas líquidos

Pena bruta das duras margaridas amarelas que insistiram em viver por longas semanas sobre a mesa branca, testemunha de meus olhares fixos mareados de angústia.

Somos, sopro de vida amarelado com os anos. Eu, pequena embarcação sem destino e porto certos; Baú de lembranças amontoadas sem razão; Poeira insistente sobre o móvel liso; Ajuste sempre por fazer.
..
.
.
.

Esse amarelo que sempre me acompanha responde ao fracasso da beleza mal intencionada. Essa que se esvai a cada movimento dos ponteiros e morre aos poucos, percebendo sua insignificância.

Beleza,
sórdida
estética
cínica
perene
esvaziada
..
.
.

Mais uma vez aproxima-se a época das flores,
a verdadeira reveladora de novas belezas
e
incitadora dos prazeres escondidos.

Março-2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

A contradição do desejo

Estou cansada
da mudança lenta dos dias

E a minha ausente predisposição ao esforço
de ser boa e coerente

Não, hoje não quero a coerência
A bondade ou a diplomacia

Hoje me preparo para a guerra, para o embate, para o debate

Quero encher uma ou duas mãos e esvaziá-las em alguém
Quero atirar olhares cheios de maldade e ira
Quero sentir o outro desfalecer lentamente diante de mim

Quero, quero sim
E por que não quereria?

Por que a obrigação de ser correta
Quando o mundo ao avesso te questiona?

Por que dizer sempre sim
Quando o corpo sente asco e nojo?

Como manter a paciência com o ruído involuntário
das velhas portas
empurradas pelo vento infiltrado por alguma fresta
Quando o que você quer é só escrever e esquecer?

Seria tudo facilmente resolvido
Se levantasse e fechasse a porta
Mas qual seria a vantagem?
Acabar com a guerra?
Abanar trapos brancos em sinal de paz?

Não, hoje eu não quero a paz.
Esse chateamento que é a tranquilidade.

Eu quero o caos
o ruído
o distúrbio
a confusão
a bagunça

Eu quero a raça
a força
a reação
a surpresa
o entorpecimento
a rebeldia
a rebelião
o confronto
a esperança
a decepção

Eu quero o rompante
o susto
a emoção
a vibração
o toque
a revelação

Eu quero tudo que pode não estar ao meu alcance
Simplesmente por poder querer

Esse vício de querer
e conquistar
e cansar
E voltar a querer
e conquistar
e cansar
..
.
.
A contradição do desejo...

Pena que nessa muda batalha
As minhas armas brancas são pouco letais
Assim vou levando uma luta interna
Sem ganhos nem perdas significaticos
Que mereçam devidos honores ou congratulações

Que as batalhas sejam infinitas
Prêmio de consolação para um coração cansado de guerra
Partido pelas duras derrotas
E acariaciado pelas pequenas grandes vitórias.

Ah, a contradição do desejo.....


Isabella Henrique – fevereiro de 2010