segunda-feira, 11 de maio de 2009

Lua cheia

Não farei questão de te explicar minha ausência. Ela é autoexplicativa, pura, simples, clara e límpida. Não tentarei devanear sobre minhas incongruências, minhas lástimas e descrenças. Não retornarei ao óbvio, este corriqueiro modo explicativo de todas as coisas de pequena importância. Busco o que apesar de complexo, me pareça ordinário e descomplicado. Busco a novidade de cada dobrar de esquina sem o susto, apenas com o novo gosto de uma aventura. Por tudo isso, que aos olhos alheios parece tão pouca coisa, te apresento minha ausência. Uma ausência branda, quase conformada. Daquela que me paralisou por um longo tempo, que não me despertou ideias nem sentimentos. O que me salvou foi te ver, lua cheia, ainda subindo, luminosa, grande, lá no céu. Senti o raio de uma alegriazinha entrar em mim. Independente do dia, da rua, da poeira, do ruído, das pessoas, da conjuntura, do grito, da discórdia e de tantas outras denominações explicativas vãs, você, lua cheia, me estapeou a cara com um espetáculo de realidade que eu já tinha me esquecido.

- Ei?! Eu ainda existo. Não me desmereça!

E foi subindo aquela ladeira (como fiz muitas outras vezes) que me coloquei fora de tudo aquilo que me atordoava e consegui visualizar o propósito mais distante, porém mais grandioso. O de ser única em meio ao meio homogêneo que vive nas linhas que me margeiam. Logo deixarás de ser cheia e te tornarás minguante e nova. Pode ser que me encontre novamente na mesma rua com a mesma descrença, o mesmo corpo cansado, um pouco curvado pelo peso do mundo, o andar lento quase arrastado... Te peço que, mesmo assim, não canse de me mostrar que ainda existe, que voltou a estar plena e cheia de luz, me ajudando a iluminar além dos pensamentos, a famosa ladeira dos pés calçados cansados.

Um comentário:

  1. "Busco a novidade de cada dobrar de esquina sem o susto, apenas com o novo gosto de uma aventura."

    muito, muito bonita esta frase.

    Pois na esquina desta rua, me vejo de camiseta esporte numa manhã de sol morno, óculos escuros e um sorvete, saindo sorridente preguiçosa do meu pequeno prédio para uma caminahda pelo Aterro.

    ai,ai... como é bom sonhar!

    um bj

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